Lili: Novela de um luto (2024)

Que livro doce! Lindo jeito de não deixar a morte morrer.

Sensível, bonito e triste. Me emocionei várias vezes durante a leitura.

Ler o livro breve e potente de Noemi Jaffe LILI – Novela de um Luto é um exercício entre a dor e a catarse. Ela começou a escrevê-lo – sem saber se seria um livro, se o publicaria – pouco depois da morte de sua mãe, em fevereiro de 2020, quando, aliás, o mundo era bem outro. Como ela deixa claro no subtítulo, é sobre o luto, sobre a dor da perda e a o que fazer a partir daí. “A vida continua” ou “é preciso seguir em frente” eram frases que ela ouvia direto, mas o questionamento do livro é exatamente esse: como e por que devemos seguir em frente?

Numa prosa límpida, urgente e sincera a autora relembra da vida de sua mãe, Dona Lili, que sobreviveu ao Holocausto e veio para o Brasil com o marido sem saber português, teve três filhas, uma de classe média confortável – apesar das dores do passado e do presente que ela sempre enfrentou. A narrativa é num tom de conversa, num jorro de emoções e sentimentos diante da perda, e a tentativa de organizar e vivenciar o luto.

É também um livro que se lê rápido, mas seu efeito é duradouro. Ao tocar com tanta franqueza num assunto tão tabu quanto o luto, Jaffe traz para o plano concreto uma discussão que ou é evitada ou se torna abstrata. Com poesia e lucidez ela enfrenta seu momento de dor e luto por meio das palavras, e, assim, ilumina momentos obscuros e melancólicos da vida.

4,5

"Não quero que as circunstâncias que atenuam o tamanho de sua morte - e elas são reais - atenuem o tamanho do meu luto, palavra de que gosto."

Num livro simples e curto, Noemi descreve o luto da perda de sua mãe. É sensível, denso, profundo ao mesmo tempo que cotidiano e lugar comum de quem perdeu alguém que se amou muito. Cada memória, cada constatação nos deixa mais próxima da figura emblemática que foi Lili.
Há dias do aniversário de falecimento de uma das minha melhores amigas, esse livro foi uma flecha em meu coração... chorei muito e ri tb, porque é assim que é.

Doce como aquele detalhe que só mãe repara.

terminando esse breve e lindo escrito de noemi, me vi deslocada de meu processo pessoal de luto - o qual parece que nunca estaremos inteiramente curadas - para enxergar com os olhos de outra filha a partida de sua mãe, dona lili, aos 93 anos

no escrever - ato que certamente é, também, uma maneira de desaguar dores - noemi promove de maneira sincera e nebulosa, como sempre são as memórias, a reconstituição de um passado que sabe ser fruto da imaginação

visitando ao que antecedeu a morte da mãe, abrindo e fechando buracos, noemi busca em feriados, receitas e demais tradições da cultura judaica na qual foi criada, formas de se aproximar de dona lili: as festas de rosh hashaná e iom kipur como espaços possíveis de imaginá-la, o tchoulent e o mil-folhas como receitas que evocam a figura de uma mulher cuja vida foi marcada pela tentativa de abstrair as memórias de Auschwitz e que amava os doces

"Ela agora mora no meu coração e na minha memória, e muitas vezes, ao me sentar para orar, sinto uma película fina de ar me envolvendo, seu abraço de penugem. Minha mãe se tornou um roçar."

Gosto muito de livros que falam sobre a morte e todos os indizíveis processos que atravessam o luto, porque só me mostram como é uma vivência absolutamente privada, individual e intransferível.
Esse livro é curtinho, foi escrito por Noemi Jaffe nos dias, semanas e meses que sucederam à morte de sua mãe. Como uma forma de sobreviver aos dias que seguem sem pausa, a escrita vem carregada de uma nostalgia e sensibilidade tão bonitas, que a sensação foi a de que eu conhecia sua mãe, que era possível sentir o cheiro de sua comida e o calor das suas palavras.
E além das lembranças, a autora também se propõe a questionar o tempo, a linha tênue entre a vida e a morte, o que somos e o que fica de nós com quem vai, assim como o que fica conosco, que permanecemos.
Há de se ver beleza em tudo, até no que dói.

Que delícia de livro. Ainda mais vivendo um momento semelhante. Nossas mães morreram quase com a mesma idade... Muitas lembranças são quase idênticas. Trechos emocionantes, outros engraçados, tudo recheado de afeto. Quanta coisa gostosa aqueceu o meu coração saudoso! Sem palavras. Vontade de escrever pra Noemi Jaffe agradecendo. Super recomendo.

Lindo <3

eu amo a escrita da noemi jaffe. parece que estou em uma tarde na sala de estar dela, em que ela vai servindo cafés e biscoitos, enquanto conta sobre sua vida. ela puxa uma cadeira para mim e vai narrando aos poucos, com delicadeza e sensibilidade, sem sobrar nem faltar nada. e nesse, especialmente, em que ela fala sobre o luto, tive essa impressão ainda mais.

imagine uma mulher que sobreviveu a auschwitz morrer de uma infecçãozinha nos pés. a partir desse fato, um tanto impensável, noemi fala sobre a graça do luto. em vivê-lo imensamente, em todas as nuances.

"o que resta de alguém, pelo olhar de quem fica, é mesmo isso, o amor. E o amor é o quê? Um bichinho que rói, rói, rói. Uma harmonia entre a dilatação da pupila e os lábios projetando os lados. Um esquecimento súbito seguido de um "ah, lembrei sim". Um abrir de geladeira para pegar as ameixas geladas que seu companheiro guardou para você. A lembrança da mãe dizendo ao telefone: "Nô, quando você vem aqui?"

Noemi me fez pensar no luto que vivi quando minha mãe morreu. A ausência que uma mãe trás é inestimável. É como ouvi uma pessoa dizer uma vez: saudade de mãe é a saudade que se tem de si mesmo.
Eu amei conhecer um pouco de Lili, o livro me permitiu sentir sua ausência.
É uma leitura nostálgica pra quem já conhece a saudade de mãe.

“Só aos poucos, superado o tempo do alívio pelo sofrimento que minha mãe vinha sentindo, é que a morte, em mim, vai se instalando como o acontecimento que ela é: a ausência completa.
Não poder mais dizer "mãe" e ouvir uma resposta; nunca mais ser chamada de "Na" com a voz dela, como ela fez nos últimos dias numa gravação do celular, "queria te dar um beijo, estou com saudades".” (Página 23).

(dá pra notar que to monotemática rs e triste rsrs)
Noemi sempre um acalanto e Lili uma querida que parece conhecida, a gente vê um pouco de Lili em todas as mães, que são imperfeitas sim mas como não, e esse pouco de Lili é sempre o que as mães tem de melhor.

Um dos livros mais gentis, tristes e bonitos que eu já li sobre o tema morte.

Such sensitivity and love in this writing ❤️‍🩹

"Percebo o quanto tenho imitado e incorporado gestos e expressões de minha mãe, como tenho me tornado cada vez menos complicada e mais silenciosa do que eu era. Ela agora mora no meu corpo e na minha memória, e muitas vezes, ao me sentar para orar, sinto uma película fina de ar me envolvendo, seu abraço de penugem. Minha mãe se tornou um roçar."

A primeira vez que tive contato com Noemi Jaffe foi através de sua oralidade, através de uma aula que ministrou sobre Clarice Lispector, no YouTube. De pronto, senti ali uma pessoa de indiscutível conhecimento sobre o que estava ministrando, mas não senti a firmeza necessária para o discurso da didática. Aqui, contudo, a história é outra.

Já ouvi, diversas vezes, que escritores, "por óbvio", se saem melhor quando não estão falando - acho uma bobagem. Acredito, tão e somente, que Noemi se comunica de maneiras distintas, quando se faz necessário. Em "Lili: Novela de um luto", a comunicação não é mais fácil, mas é mais universal - a experiência do luto, muitas vezes, é uma antecipação. É possível senti-lo, embora não em sua totalidade, aquela que jamais queremos ver chegar. É possível sentir a doçura de suas lembranças, a dor da ausência que corrói seu coração, e o amor, que ela descreveu como um bichinho, roer o tempo das lembranças.

Noemi é uma ótima escritora e, por essas poucas páginas, também aparenta ser uma ótima pessoa. Real como o leitor, abre seu coração nas palavras, deixa os sentimentos fluírem através das letras, e, o que poderia ser uma tristeza, transforma na mais bonita emoção. O livro em questão é uma esperança. Um exercício de liberdade e amor. Uma verdadeira declaração.

"Lili". Nome doce. "Doce, elogio mais lindo do mundo". A doçura do nome da mãe de Noemi, que se reflete na sua personalidade, torna mais amarga a sua ausência. Quando Lili morre, a escritora Noemi Jaffe escreve um lindo livro-memorial em sua homenagem.

Muito de "Lili" se situa no momento em que Noemi observa os itens da mãe morta. Entre colares e guardanapos, a cabeça traz à tona lembranças e emoções. O livro é isso: essa pequena e significativa coleção de reminiscências, com momentos pontiagudos de frases que são tão belas e tão tristes. Um jogo de contrários que marca a morte de um ente querido, em que passado e presente se tornam uma bola amorfa e o futuro parece ainda mais uma abstração. A escrita de Noemi, neste livro, é sobre viver nessa contradição. Sentir cada sentimento do luto. Não evitar a face da morte, que também é a face da vida.

O luto é preto, mas deveria ser uma mistura de estampas. Um tecido de momentos floridos cosido com estampas sóbrias de tristezas e ausências. De longe, o todo é barulhento, sem sentido. Algum sentido aparece apenas quando nos detemos, por um segundo que seja, em cada fragmento. Ler "Lili" é como viajar os olhos por esse tecido.

Noemi começa este livro há poucos dias da morte da mãe e o conclui quase um ano depois, trilhando parte desse processo em que o tempo é mais que relativo - é confuso. Ler sobre o luto de outra pessoa traz um resgate daquilo que o enlutado teme tanto perder - as lembranças de quem se foi.

Termino essa leitura com a certeza de que, embora cada luto seja uma vivência muito singular, a ausência tão profunda deixada por uma morte devastadora (e impossível) permite aproximação, reconhecimento e a sensação de não se estar só.

Noemi traz com uma honestidade muito corajosa diversos sentimentos em nuances surpreendentes e exatas que só quem assiste a morte se aproximando (re)conhece. Forte e delicada, essa leitura exige uma boa dose de coragem ou de necessidade de conexão - com o luto, com o outro.

Tenho a impressão de que as pessoas falaram bastante de luto e de morte nesses últimos tempos, eu mesma li mais de um livro sobre o assunto.

Esse livro da Noemi Jaffe é realmente muito sensível, além de ser um livro bonito e de um tamanho perfeito para ler numa viagem que foi o que eu fiz.

A Lili do título era a mãe da autora, era uma sobrevivente do holocausto e morreu aos 93 anos de idade.

Eis um pequeno trecho:

O homem do chevre kadisha me censurou. Disse que quem estava lá não era “mais” ela. Com que rapidez se aceita que a morte subtrai a pessoa; que a morte esvazia o que chamam de alma da pessoa.
Resisti: é o corpo da minha mãe. Era ela ou não era ela? Na hora, para mim, era.
O corpo da minha mãe morta é minha mãe.

Reli "Lili: novela de um luto", da Noemi Jaffe, para o debate de sábado, 28/05, no Clube de Leitura Bons Casmurros. E minha impressão foi a mesma da primeira leitura, feita no ano passado, antes da mediação da conversa com ela na FLIM 2022. O livro é uma pequena obra de arte, que trata com muita singeleza e sinceridade desse assunto tão grande que é a morte.

Falando sobre a morte da mãe, sobre a mãe, sobre o luto, Noemi fala sobre a humanidade, sobre maternidade, afetos, em suma, sobre a dor e a delícia de sermos humanos.

Vale a leitura e a releitura.

foda demais! tomei conhecimento do livro por conta da indicação da aline bei na entrevista do provoca, e eu que achava que ela nao errava nunca, agora tenho ctz (muito lenda). o livro faz um analise muito interessante sobre a morte, mas tambem retrata a ruptura de qualquer fase, afinal qualquer termino leva a um processo de luto. no final achei que o livro retrata principalmente como é viver depois da morte. enfim, a vida é um morar na boca invisível do tempo.

um relato lindo sobre uma filha passando pelo luto da mãe. não é lindo porque romantiza a vida de uma mãe, mas sim porque é cru e sincero: noemi passeia pelos diversos sentimentos que um luto é capaz de provocar, sentimentos reais por uma mãe real; com todas as suas manias, defeitos, que já conhecia ou que passa a descobrir agora em sua ausência

Ao mesmo tempo que vamos conhecendo a dona Lili, mãe da autora, também lembramos das nossas próprias mães e avós, e vamos tateando a complexidade que é o amor, que é o ser humano por si só e a constituição familiar. Uma livro que abraça. Recomendo demais 💫

"A diferença entre a vida e a morte, mesmo logo antes de a pessoa morrer - isso só sei agora -, é a diferença entre um trovão e o silêncio."

❤️

Tão bonito!

Esse livro é lindo, me impactou muito. Tanto que chorei algumas vezes, não pelo tema luto, mas por algumas frases que me pegaram de jeito, principalmente as que falavam sobre o tempo.

Incrível, não consigo nem descrever 🤍✨

Profundo, delicado e muito bem escrito.

que livro lindooo